Problemas do sexo precoce
Os jovens estão começando a fazer sexo cada vez mais cedo. Para um adolescente bem orientado, principalmente quando a iniciação sexual acontece com um parceiro da mesma idade, isso não traz maiores problemas. Mas, sem a orientação necessária, a sexualidade precoce pode causar prejuízos físicos e emocionais, além de aumentar os riscos de doenças sexualmente transmissíveis e de uma gravidez indesejada
No mundo inteiro, os jovens estão iniciando a atividade sexual muito cedo. Em parte, devido à liberalização que marcou as últimas décadas, mas também por uma tendência à erotização precoce. Crianças pequenas se vestem e se comportam como adultos. A própria sociedade e a mídia estimulam essa prática. Há uma expectativa até da família para que os adolescentes se tornem adultos rapidamente. Paradoxalmente, apesar desta indução ao crescimento precoce, os pais, muitas vezes, não sabem lidar com os novos padrões de comportamento, não conseguem impor limites e acabam entrando em conflito com os filhos.
O psicanalista Luiz Alberto Py concorda que os adolescentes, em nossa cultura, estão menos sujeitos às repressões que dificultavam o encontro sexual: "Quanto menor a repressão, mais precocemente eles iniciam a atividade sexual." Em sua opinião, se o jovem for bem orientado e informado pelos pais sobre as principais questões relativas ao sexo, não há inconveniente em começar cedo a vida sexual. O problema é quando a família não consegue lidar com os novos padrões de comportamento.
"De maneira geral, a criança e o adolescente, hoje, são muito mais informados e têm maior liberdade de dizer o que pensam. O diálogo ficou mais aberto e a relação familiar mais igualitária. No entanto, alguns pais não conseguem colocar limites nem orientar os filhos. Uns optam pela repressão pura e simples: está proibido, e pronto! Outros, pela permissividade total".
Esta atitude permissiva da família gera excessos. Adolescentes que não têm hora para chegar em casa, consomem drogas e bebidas alcoólicas e se expõem a riscos desnecessários, como as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada. Luiz Alberto Py acha que isso acontece porque há um receio, por parte dos pais, educadores e autoridades, em assumir a responsabilidade que lhes compete de estabelecer limites.
"Os jovens necessitam desses limites para desenvolver uma saudável tolerância às inevitáveis frustrações da vida. E nisto se inclui, por exemplo, a necessidade de autocontrolar o uso de substâncias tóxicas, como bebidas alcoólicas, e o próprio comportamento, através de bons exemplos paternos, aprendendo a administrar emoções, impulsos e desejos".
O psicanalista chama a atenção para o fato de que quem começa a fazer sexo muito cedo pode estabelecer uma precoce, e por vezes mal-sucedida, relação com o sentimento de responsabilidade. "A atividade sexual coloca os adolescentes frente à possibilidade de ter um filho e, portanto, os obriga a pensar nos prós e contras desta situação. No caso, nada raro, de uma gravidez, os jovens são forçados a enfrentar a decisão de ter o filho ou abortá-lo: uma tremenda responsabilidade, qualquer que seja a alternativa. Além disso, uma situação como esta gera uma crise que atinge as duas famílias. E os pais - futuros avós em potencial terão, queiram ou não, de ajudar seus filhos a chegar a uma resposta para esta questão dificílima".
Apesar de a maioria dos adolescentes se iniciarem sexualmente com parceiros da mesma idade, comportamento muito mais saudável do que o antigo hábito de o rapaz começar com uma prostituta e a moça com um homem mais velho, os relacionamentos, hoje, são bem mais rápidos. A troca freqüente de parceiros tem aumentado o índice de doenças sexualmente transmissíveis. E mesmo levando-se em conta que o adolescente se acha invulnerável e sente atração pelo risco, há uma omissão dos adultos quanto à orientação dos jovens.
Muita gente critica o descompromisso afetivo e a falta de afeto nas atuais relações adolescentes. Ficar está praticamente institucionalizado, já virou um padrão do relacionamento adolescente. É uma situação de momento e não, necessariamente, um estágio para o namoro. Não há compromissos, elos, nem mesmo uma ligação mais forte.
Para o psicanalista, o ficar traduz "o nível de compromisso possível num relacionamento que inclui atividade sexual precoce. Na verdade, esse comportamento não deixa de constituir um aprendizado, um treinamento para o futuro. No entanto, é preciso que os jovens estejam orientados sobre as conseqüências da sexualidade precoce. O psicanalista Py diz que a orientação familiar deve se basear em informações honestas e bem fundamentadas. "A pior coisa é quando os adultos se desmoralizam ao mentir para os filhos. Ao perceber a mentira, os adolescentes ficam decepcionados e criam uma imagem negativa dos pais."
Jovens que têm um bom diálogo em casa, que são ouvidos, aceitam melhor as ponderações sobre a conveniência de determinados comportamentos. E, além disso, costumam respeitar mais os pais, em vez de temê-los, já que muita gente confunde conquistar respeito com impor autoridade. Quando os pais estão realmente interessados em dialogar, ou seja, falar e também ouvir, os adolescentes aprendem a escutar e a valorizar os conselhos paternos.
Lógico que diálogo e compreensão são fundamentais, mas deve existir dentro da família uma clara definição de papéis. Muitas vezes, a ausência de limites decorre de uma inversão ou confusão desses papéis. O adolescente está procurando se estruturar como pessoa e, por isto mesmo, precisa aprender valores. Cabe aos pais a tarefa de orientar, educar, dar limites. Afinal, durante a vida inteira, todo mundo tem que vencer obstáculos, superar dificuldades, se adaptar a uma série de limites. Ensinar isso aos filhos é uma grande prova de amor.